05 dezembro, 2012

A maleta e a alma

     Caminhando na calçada, uma amiga e eu encontramos uma pequena maleta, estava um tanto gasta, porém, bem cuidada. Vazia. Jogada. Sem qualquer identificação além da nítida influência do tempo [...] A trouxemos para casa. Era noite.
       Ficou em minha cabeça um desejo de saber mais sobre ela. Um estranho desejo é querer conhecer a mala, sim. Mas não me referia a ela e sim à sua história. Viagem? Negócios? Ornamentação? Herança? Brinquedo? Qual a história que ela carrega consigo, tão calada... estática... No mesmo instante em que o pensei, pensei na mesma coisa que tantas vezes penso quando ando por aí: somos todos portadores de uma vida, uma história, um algo mais. Todos. É interessante saber que cada pessoa carrega consigo um nome e uma bagagem. Feito os livros que levam a capa e o conto. Feito o próprio homem que leva junto o corpo e a alma. Ah! A alma [...]
      O silêncio tantas vezes me desperta, assim como o barulho me paralisa (na maioria das vezes). O silêncio da tal maleta me despertou a curiosidade, a imaginação, a inspiração.
Há tantas malas perdidas por aí... Cheias, vazias, grandes, pequenas, perdidas, abandonadas. Há tanta gente por aí... Cheia, vazia, grande, pequena, perdida, abandonada. Carregando uma bagagem invisível e com tranca e esta só se abre com um doce olhar e um largo sorriso. 
         Olhei e sorri docemente para a pequena maleta e ela se abriu. Não nos feixes, mas na minha mente, me revelando uma história incrível: a minha. Que vou tecendo como se tecem tapetes. Até mesmo como os livros. Tudo parte de algo mais. Tudo nasce, na verdade, de dentro do homem. Tudo se origina ali, para depois tornar-se real.
           Somos maletas. Somos livros. Somos tapetes. Somos homens/mulheres. Somos.
      Quem ousar dizer que não, se engana. Não é uma opção ser. Simplesmente somos aquilo que carregamos na nossa maleta particular: a alma.

2 comentários:

  1. Só se conhece o interior de uma mala aquele que a carrega, e às vezes, nem seu próprio carregador sabe o que tem lá dentro...

    Lindoo texto!!

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