16 janeiro, 2016

Dos joelhos calejados


   O Santíssimo Sacramento exposto no altar da Igreja. Quando entrei, chamou minha atenção um senhor de terno, bem arrumado, ajoelhado aos pés do altar. Poucos cabelos na cabeça, os que restaram já estavam cinzas como o paletó. De mãos juntas e cabeça baixa fez reverência. Saiu devagar, com um livro em mãos.
   Quando o vi me pareceu uma criança, daquelas que vai acompanhar o pai à Igreja e é exemplo pros irmãos mais velhos de piedade e caridade. Vi nele uma Igreja tão viva, resistente aos ventos, à chuva forte, aos tempo, aos nossos descuidados. 
   Ajoelhar-se nessa idade não é fácil quando não se está acostumado. Creio que tantos altares já o sustentaram em suas orações que ele não está tão diferente das ofertas postas a Deus. O que seus joelhos cultivaram enraizou-se em seu coração e já não sai. É tanta vida vivida! Mas algo permanece. Algo se tornou eterno.

08 janeiro, 2016

Do fogo


   Arrumando minhas coisas, revendo algumas delas após tanto tempo, encontrei a vela que recebi em meu crisma. Perguntei já tendo em mim uma resposta 'Mãe, o que faço com ela?Não queria deixar ela aqui de qualquer jeito.' 'Vocês não precisam de velas? Ah, usa pra rezar, enquanto você estiver por aqui. Vela foi feita pra queimar...'
   Isso ecoou na minha cabeça durante todo o dia. 'Não só ela.' Foi o que pensei imediatamente. 
   O fogo que aceita minha oferta, como aceitou a de Elias, vai fazendo com que, pouco a pouco, eu desapareça. E que mal é para a vela já não mais existir? Ela foi toda consumida naquilo que a torna plena. 

Não só ela.