29 dezembro, 2012

Dos pensamentos

Cada dia mais perto de estar mais longe.









É só um desabafo [...]

{ ... }

28 dezembro, 2012

Um minuto com Foucauld

Hoje, sexta feira, dia de meditar a Paixão de Nosso Senhor, reli as últimas palavras do beato Charles de Foucauld em seu livro Meditações Sobre o Evangelho (indico!). Uma oração feita na meditação da Santíssima morte e agonia de Cristo. Partilho com vocês para que, comigo, peçam a Deus a graça de amar sempre mais como desejou Foucauld.

Santíssima Virgem, Santa Maria Madalena, S. João, Santas mulheres, colocai-me junto de vós aos pés da Cruz de vosso Bem-amado, para que, prostrado juntamente convosco, eu participe na vossa adoração e dor, no vosso reconhecimento e desfalecimento. Fazei com que, na vossa companhia, eu agonize aos pés do Bem-amado agonizante, recebendo o Seu último olhar, ouvindo o Seu último suspiro; fazei com que convosco eu desfaleça de amor, de dor, de confusão, de penitência... levai-me a desfalecer e perder e abismar num amor e numa dor grandes como o oceano, afogando-me, inundando e submergido, nada sabendo senão que morro aos pés do meu Jesus que morre! Ó Jesus, eis que nos amastes <<até ao fim>>.
                                                              (Meditações Diárias; A Paixão; João XIX, 30; pgn 217)
"Amemos Jesus que comprou as nossas almas e o nosso amor por tão grande preço!" 
- beato Charles de Foucauld


26 dezembro, 2012

O Circo

É tão bom vê-los sorrindo e nos fazendo sorrir. É estupendo as milhares de cambalhotas e os truques de mágica que já sabemos de cor e não nos cansamos de ver. Quando a banda começa a tocar e surgem os tropeços, um atrás do outro, as trombadas, as pequenas brigas [...] nossa atenção se rende a todo aquele encanto. As maçãs-do-amor, saquinhos de pipoca quentinhos, malabares e pernas-de-pau. Tanta cor. É como se o preto e o cinza, por um instante, desaparecessem. 
Nunca vi ninguém perguntando ao palhaço como está a vida de montar e desmontar a lona. 
Nunca paramos para perguntar se seu coração está ali com ele ou com uma moça de um sorriso encantador que ficou em outra cidade rezando pro circo voltar.

Ainda sim, todos os dias, ele veste a mesma roupa, faz a mesma maquiagem, coloca a mesma peruca. São as mesmas falas, os mesmos truques, os mesmos personagens, os mesmos tropeços [...]
Mas são sempre novos sorrisos. Nenhum igual ao da moça de chita.

É um dom provocar a alegria nas pessoas.
É complicado fazer as pessoas rirem quando você quer chorar.
Admiro palhaços.

25 dezembro, 2012

(?)

Vivemos esperando razões que nos movam a mudanças. Motivos que nos sejam suficientes para modificar um comportamento, uma mania, um hábito, uma característica, um defeito, um vício [...]
Eu queria entender o porque de as pessoas saberem o que é melhor e insistirem em esperar um impulso para colocar em prática tudo aquilo que sabem. Necessitamos de motivos para nos levantarmos, para voltarmos atrás, para tomarmos um café com um amigo ou comprar uma flor para dar de presente. Esperamos datas especiais para fazer alguém sorrir ou se surpreender. Esperamos assuntos sérios ou de interesse para sentarmos na varanda para conversar. Esperamos eventos grandiosos para usarmos nossa melhor roupa. Vivemos esperando.  
Acabamos nos esquecendo de que se não mudarmos, nada mudará.

Afinal, esperamos o quê e por quê?

Se posso mudar hoje e fazer com que os dias melhores já comecem amanhã. Posso tomar café com um amigo hoje e reservar outro programa novo para amanhã. Posso dar uma flor a alguém que amo e fazer com que ela saiba hoje que a amo. Posso fazer surpresas sem datas especiais, afinal, nas datas especiais já esperamos surpresas! Podemos sentar na varanda e silenciarmos hoje, talvez amanhã o dia não esteja tão bom. Podemos usar nossa melhor roupa para ir à padaria numa segunda de manhã.

Por que esperamos para que algo seja especial se podemos o fazer nesse instante mesmo?
Por que esperamos motivos para sermos melhores se podemos o ser nesse instante mesmo?
O que há de tão assustador em começar agora?
Por que esperamos sermos amados para amar?

'Vivemos esperando o dia em que seremos melhores; melhores na dor, melhores no amor. Melhores em tudo.'

Por que não hoje? Agora?

17 dezembro, 2012

Um pouco de sensibilidade

   Certo dia, em um compromisso com idosos, me deparei com um, em especial. Um senhor já cansado, um pouco lento. Logo meu irmão disse-me que, quando criança, o via nas ruas da cidade em uma bicicleta carregando mandiocas para vender. Extremamente atento, demorei a deduzir que já estava quase cego, sua quietude e atenção eram extremamente escandalosas, ao menos para mim.
   No momento em que todos estavam no refeitório servindo o almoço em comemoração antecipada ao natal, uma senhora serviu um prato e o entregou a esse senhor, pegou suas mãos e as colocou uma no prato outra segurando o talher. Fiquei atenta em ver o cuidado, porém, logo outra coisa me chamou a atenção: o miúdo senhor segurou o prato com as duas mãos, levantou-o poucos centímetros acima da mesa, direcionou seus olhos para o alto e orou [...] demoradamente. 
   Aquilo que vi, jamais conseguirei descrever de forma perfeita o que significou. Meus olhos começaram a arder e logo quis chorar. Me segurei.
   Ele já não carregava nada em sua bicicleta para vender pela cidade. Caminhava vagarosamente. Já sem forças para viver como vivia. Dependente de outros para quase tudo. As mãos trêmulas. O corpo fraco e levemente curvado. E algo incrivelmente lindo: o mesmo sorriso.
   Tudo para ele mudou, mas absolutamente nada mudou. O sorriso (sincero) é a prova de que o coração está em paz, aninhado, onde deve estar. Tudo no homem se desgasta, exceto a plenitude da alma. Nada corrói a essência da vida humana. E é preciso cada vez mais de sensibilidade para captar os tesouros que escorrem de tantos olhos cansados por aí [...]

   Nenhuma história incrível. Só os olhos e o sorriso daquele homem. 
   Me desarmaram.  

13 dezembro, 2012

Pequena ave

  O homem busca o tempo todo sua plenitude. Quer alegria plena. Quer vida plena. Mas procura onde tudo é pó e nada mais. É curioso [...] ontem mesmo um amigo e eu conversávamos quando ele me disse que o nada é onde há mais espaço, único lugar onde cabe exatamente tudo (S.S). Todos nós temos um desejo de sermos plenos, mas tão poucos de nós sabem onde encontrar esse tesouro.
  Os únicos que o encontraram abandonaram tudo. Se desapegaram de tudo. Renunciaram a tudo. Entraram no deserto, na solidão da alma separada do mundo, das criaturas e coisas. Se encontraram consigo e, ali, de tudo despojados, com DEUS. A plenitude está em nada ter. Em tudo dar. Em nada ser.
  Quando o homem compreenderá a imensidão de sua alma e a finitude deste mundo? Há um medo de adentrarmos nosso deserto. Mas enquanto a criatura não abandonar tudo aquilo a que se apegou, não conseguirá fixar seus olhos em DEUS.
  Vejam os pássaros que nada têm. Nada carregam consigo senão o próprio peso. Não lhes falta. Engraçado que quando querem se referir à liberdade, citam pássaros... Justo estes, tão pobres, tão pequenos [...] Tão despojados não se preocupam com nada mais do que fazer o que nasceram para fazer: voar.

Pobre do homem que não vê que possui asas e insiste em se agarrar a fardos pesados.
Se agarre a DEUS (Mt 11; 30)

05 dezembro, 2012

A maleta e a alma

     Caminhando na calçada, uma amiga e eu encontramos uma pequena maleta, estava um tanto gasta, porém, bem cuidada. Vazia. Jogada. Sem qualquer identificação além da nítida influência do tempo [...] A trouxemos para casa. Era noite.
       Ficou em minha cabeça um desejo de saber mais sobre ela. Um estranho desejo é querer conhecer a mala, sim. Mas não me referia a ela e sim à sua história. Viagem? Negócios? Ornamentação? Herança? Brinquedo? Qual a história que ela carrega consigo, tão calada... estática... No mesmo instante em que o pensei, pensei na mesma coisa que tantas vezes penso quando ando por aí: somos todos portadores de uma vida, uma história, um algo mais. Todos. É interessante saber que cada pessoa carrega consigo um nome e uma bagagem. Feito os livros que levam a capa e o conto. Feito o próprio homem que leva junto o corpo e a alma. Ah! A alma [...]
      O silêncio tantas vezes me desperta, assim como o barulho me paralisa (na maioria das vezes). O silêncio da tal maleta me despertou a curiosidade, a imaginação, a inspiração.
Há tantas malas perdidas por aí... Cheias, vazias, grandes, pequenas, perdidas, abandonadas. Há tanta gente por aí... Cheia, vazia, grande, pequena, perdida, abandonada. Carregando uma bagagem invisível e com tranca e esta só se abre com um doce olhar e um largo sorriso. 
         Olhei e sorri docemente para a pequena maleta e ela se abriu. Não nos feixes, mas na minha mente, me revelando uma história incrível: a minha. Que vou tecendo como se tecem tapetes. Até mesmo como os livros. Tudo parte de algo mais. Tudo nasce, na verdade, de dentro do homem. Tudo se origina ali, para depois tornar-se real.
           Somos maletas. Somos livros. Somos tapetes. Somos homens/mulheres. Somos.
      Quem ousar dizer que não, se engana. Não é uma opção ser. Simplesmente somos aquilo que carregamos na nossa maleta particular: a alma.