Nos detalhes desse tempo, um tanto perdida, tantas vezes me encontrava por aí, com o pensamento longe de mim. Me pegava pensando em coisas maiores que eu. E, então, quando percebi já nem me pertencia mais. Já estava tomada de um sentimento de alegria que ardia em mim. Ansiosa por não mais me pertencer, fechava os olhos, na esperança de ir mais longe por alguns segundos.
Das coisas que Ele me deu a perceber a mais preciosa delas foi o amor. Tão escondido que quase o não pude notar, se bem que o sentia por perto. Ele me mostrava onde se escondia e quando O encontrava meu peito ardia feito algo vivo dentro de mim que morria e, ao mesmo tempo, nunca vivia tanto. Sentia que minhas forças já não eram minhas; que a minha leveza era extrema e que o que me prendia a esta terra era minha carne que já não fazia tanta diferença nesses momentos. Mas a alma voava, feito um passarinho, pra perto do céu.
Deu-me a perceber o quanto era doído desprender-me de minhas penas; de minhas penas. Deu-me a ver que sem elas já não mais voaria para onde queria, porém Ele me daria novas asas que me levariam a lugares por mim ainda não desbravados. Tirava-me das pequenas poças para fazer-me banhar em seus rios. Fez-me perceber que o que eu pensava ser Ele era, na verdade, uma ilusão. Que quando eu quisesse O encontrar outra vez não seria fora, mas em meu pequeno peito inquieto de saudade. Saudade de voar outra vez com Ele; de cantar cantos jamais ouvidos compostos por Sua infinita bondade. E, ao ensinar-me tanto, em mim queimava um desejo de ir mais alto e, ao mesmo tempo, ficar ali. E, oscilando entre o ir e vir, vi-me, então, voando. Vi-me então, quieta. Ambos dentro dEle. Ambos completamente fora de mim.