Eu vim de longe pra fazer meu ninho numa dessas árvores por aqui. Bem-te-vi, passarinho. Bem te vi na luz do sol. Bem me vi um rouxinol, pra cantar coisas de Ti.
É de pó minha casa, misturada à minha essência. É de porta virada pra que não entre a chuva forte, pra que não me visite a morte senão quando for o momento de, com calma, recebê-la. Agora, é hóspede de mim a vida que só sai de casa pra visitar comigo o que costumo olhar quando voo. E se me encanta uma gota d’água, aumenta em mim a sede só de olhá-la. Com pesar eu vou embora por não estar tão satisfeito como gostaria. Mas agora é hóspede também a alegria, que entra quase sem querer, “culpa” dos meus olhos atentos.
É de barro a minha tenda que, no fim, volta pra terra de onde veio. Quando assim for, voarei ainda mais alto. E que venha a chuva forte pra eu dançar no meio.
Quando olho pro meu ninho, me vejo passarinho, tão pequeno, quase nada. Mas agora me reconheço e em paz eu adormeço: 'João de barro, não é essa a tua morada.'
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